
Há uns tempitos atrás disse que gostava de fado.
Isso não faz de mim uma bairrista de mão à cinta e canasta à cabeça, nem amante de touradas, muito menos proveniente de uma família da com um monte no Ribatejo.
Foi com base neste conceito, que admito ultrapassado, que se apoiaram alguns músicos da nossa praça para pegarem na obra da Senhora Amália e fizeram adaptações de algumas canções.
Não tenho nada contra, embora ache que quando os músicos se viram para este tipo de trabalhos, normalmente estão um pouco postos na prateleira a ganhar pó e sem veia criativa pulsante para a criação de coisas novas.
O projecto Humanos foi muitíssimo bem sucedido neste sentido, o mesmo já não posso dizer deste caso muito em particular.
Não vou generalizar, porque só ouvi a adaptação do tema "Gaivota" - que os mais atentos se devem lembrar como sendo a minha música favorita da vasta carreira da diva.
Assim sendo, sinto-me pessoalmente agredida sempre que tenho o desprazer de ouvir a vocalista dos "The Gift" vomitando sílabas de tão belos versos.
Uso a expressão vomitar porque, para além da voz de bagaço característica, o ritmo utilizado é penoso, em golfadas de insuportável ruído para os meus tímpanos sensíveis.
Não sei também destrinçar o motivo que os levou a pensar que omitir parte da letra contribuiria para adicionar algum tipo de valor à versão.
Mas se calhar sou eu que tenho esta música em demasiada consideração e tome como um ataque pessoal.
Provavelmente, se tivesse entre as minhas músicas de eleição a música "Pó de arroz" do Carlos Paião, sentiria um incontrolável desejo de abater a tiro o Tiago Bettencourt na mata onde se encontrava empedrenido na altura em que gravou a sua versão, ao invés de querer simplesmente agredi-lo com uma pá - provavelmente.