quinta-feira, 30 de abril de 2009

Os bichos

Ainda na minha senda de adquirir a selecção de animais referidos num dos posts abaixo, este fim de semana fui ao jardim Zoológico.

Já não ai lá desde pequena.

Lembro-me vagamente de ser carnaval e estar mascarada de saloia, ou lavadeira, ou padeira, ou uma eira qualquer. Porque a minha mãe tinha a mania de todos os anos me alugar uma farpela diferente, mas que era estranhamente semelhante à do ano passado.

Desconfio que os proprietários do negócio tinham meia dúzia de peças que conjugavam de formas diferentes, juntavam um adereço e pronto, estava feito, passe para cá 5 contos e devolva segunda feira lavado se faz favor.

Apercebo-me disso quando revejo as minhas fotos de infância e constato que em todas elas pareço uma algarvia (não nego as raízes) mas com uma maquilhagem de pêga. E eu achava lindo.

Depois cresci e apercebi-me que sombra verde alface e batom vermelho puta devem apenas ser usadas em caso de estarmos com a nossa cara metade no carnaval de Torres Vedras, e onde a maquilhagem e a saia travada não estão a ser usadas por mim.

Com grande desgosto ia para a escola levando uma foice debaixo do braço um ramo de papoilas de plástico e espigas de trigo, enquanto as minhas colegas se pavoneavam em vestidos de damas antigas e fadinhas.

Todos os anos havia um concurso, que era sempre ganho por alguém com fatos mais chiques do que o meu.

Um ano, fiz a cabeça da minha mãe em água, pedindo-lhe um fato desses para o carnaval. Depois de ter apanhado sustos valentes comigo quando acordava de manhã e dava de caras comigo na cabeceira da cama, assentiu.

Porque sempre ganhei pelo cansaço, e quando se quer mesmo uma coisa há que começar logo de madrugada- que eu cá não gosto de perder tempo.

Nesse ano ganhei o concurso, vestida de dama antiga. O fato era muito bonito - pelo menos na altura pareceu-me,mas há pouco tempo revi as fotos...

Era também das coisas mais desconfortáveis que alguma vez usei. Levei o dia todo sem me poder sentar em condições, porque aquela treta tinha um ferro na parte de baixo.

Nesse dia desejei ardentemente ter de volta os fatos de gente da plebe.

Foi nesse dia que o conceito "o conforto não deve nunca ser sobreposto por nada" entrou na minha vida.

Maltrapilha? Até pode ser. Antes isso do que andar o dia todo como se estivesse enfiada numa camisa de amor próprio ou com os pés a chiar.

Isso está contra a nossa natureza. Por que raio fazemos isso a nós próprios? Apagar pontas de cigarros nas virilhas para fins recreativos, ainda vá, agora metermo-nos dentro de umas calças de ganga à custa de acrobacia? Gosto de respirar - é lúdico!

Mas o que é que estava mesmo a dizer?

Ah, já sei, estava a falar da minha ida ao jardim!

Assim que chegamos, deram-nos um mapa, que consultamos de imediato.

Haviam lemures e tigres e suricatas.

Alegrei-me e decidi deixar o melhor para o fim - mais ou menos como faço com a comida.

Depois de percorrermos todo o espaço fomos ver os predilectos.

Como as leis de Murphy são o sumo da minha existência, tive pouca sorte. Melhor, eu deveria ser uma lei de Murphy, a sério! Todos os acidentes físicos, mesmo os mais improváveis conseguem concentrar-se no meu espaço existencial. Não há bola que tenha estado no meu perímetro que não me tenha atingido na cara com aparato...

Adiante. Tive pouca sorte.

Os tigres estavam todos a dormir, por isso vi apenas a cauda de um que adormecera abraçado a uma árvore.

Quando cheguei à cerca dos lemures vi um.

Achei-o pequeno.

Depois outro.

Depois um grupo.

Depois olhei com atenção e eram ratazanas. Grandes!

Depois fugi e procurei consolo junto dos suricatas. Que não estavam lá! Porque havia obras.

Como podem ver, o plano de raptar algum destes espécimens saiu completamente gorado.

E eu que até tinha levado a minha mala grande!

Já de saída, já dando como mal empregue toda a tarde dispendida, tive a visão que fez tudo valer a pena.

Tenho mais um animal para juntar à lista. Lebre da Patagónia!

Anotem este nome. Esta mistura de coelho com cabrinha ainda vai ser minha.

Isto se não for atingida por algum relâmpago pelo caminho...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Mestre Maco


Cada dia que passa mais me convenço que tenho a sensibilidade de um camionista ou de uma saca de serradura (daquelas com embalagem azul, porque as amarelas são um bocadinho on the edge).

No outro dia os meus colegas estavam a comentar o facto de se emocionarem até às lágrimas com o programa "Querido, mudei a casa".

E eu pedi para repetirem porque não estava a perceber.

Mas aquilo não é um programa de bricolage com uma apresentadora maquilhada como uma drag queen e onde os homens das obras podem dar largas às suas ambições de actores?

O que pode haver de emocionante na redecoração de uma casa?

É emocionante para a pessoa que não teve pachorra para mudar a casa e que em troca de uma reportagem chorosa no fim do programa, recebe uma divisão toda arranjadinha. Agora para quem vê?

É certo que o TPM tem efeitos realmente irracionais mas isto é um bocadinho de mais.

No máximo, com TPM emociono-me a olhar para a brancura reluzente de uma louça sanitária quando estou mesmo, mesmo muito aflitinha.

Cada pessoa reage de forma diferente aos desequilíbrios hormonais, tudo bem, mas algumas das pessoas que fizeram essa confissão são homens.

Ficaram sem resposta, não foi? Também eu!

terça-feira, 21 de abril de 2009

Arca de Noé

Desenganem-se se pensam que vou fazer mais alguma referência a incongruências da bíblia - fica para o ano, ou para alturas do Natal.

Quando estou aborrecida, tenho por hábito ver fotos no google para me animar. Dei por mim a ver fotos de animais e a sonhar acordada (que poderá ou não ter a ver com a vaca da minha vizinha de baixo ter estado até às 4:30 da manhã a dar uma festa lá em casa).

Sempre adorei bicharada e levava para casa tudo o que apanhasse, o que normalmente se manifestava em bolsos cheios de minhocas, caracóis, rãs, lagartixas, bichos de conta...

Já agora, o que foi feito dos bichos de conta?

Sempre foram os meus favoritos. Como os rapazes não me deixavam brincar com os guelas deles, brincava com a minha colecção. Bons tempos!

Como é típico das crianças, pedia aos meus pais para me arranjarem mais animais de estimação mas eles sempre se esquivaram oferecendo-me gatos, peixinhos e cágados.

Sempre soube bem o que queria e não me deixava enganar com desculpas do género: "Não podes ter esse animal num apartamento" ou "É um animal imaginário".

Quando juntar um dinheirinho, vou aplica-lo a concretizar um dos meus sonhos. Sonho esse que passa pela aquisição de pelo menos um de cada um destes exemplares.










quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ele está no meio de nós


Sei que já passou a Páscoa mas mesmo assim considero esta pequena dissertação dentro do prazo de validade.

Porque nunca é tarde para pôr em causa a religião católica. E também porque queria dar um tempinho para me sentir segura mandando por terra as bases em que assentam as crenças das minhas vizinhas testemunhas de Jeovah, sem temer que a minha casa seja cercada por uma multidão enfurecida com archotes.

Quem tem a infelicidade de passar esta quadra num local refundido no interior profundo - a terra de meus avós - sabe que a tv cabo ainda não chegou lá.

Não chegou lá grande coisa. Sempre que tenho de usar o telemóvel, tenho de me deslocar para o cimo de um cerro e encostar-me ao lado direito do poste telefónico que lá existe.

Se nesse dia estiver vento de Oeste, consigo fazer chamadas.

São demasiadas variáveis, dirão. Mas ao fim de algum tempo, conseguimos identificar os sinais logo pela manhã se vamos conseguir falar.

Quase como os anciãos que escrevem o Borda de Água, que são prisioneiros dos editores desde pequenos, mais ou menos por alturas do seu sétimo aniversário - que é, como toda a gente sabe, a idade do despertar do dom da previsão do tempo.

Mas voltando à televisão.

Por essas alturas somos sempre brindados com novas versões da vida de Cristo e o camandro.

Resumidamente o Tipo nasce, a mãe convence o pai que é concepção divina, vêm os reis que lhe dão prendas, gap de 24 anos, é baptizado, cura aleijados e ceguinhos, multiplica comida para pessoal que apareceu lá em casa para jantar sem avisar, janta com uns amigos, um deles não gostou muito que ele lhe tivesse ganho o burro no Pocker, chiba-se, penduram-no na cruz, morre, volta, fim.

Fim? Então e depois?

Ele volta, só para dizer que pode e depois?

Nem as minhas vizinhas me conseguem responder porque não aparece em filme nenhum.

Voltou a pastar rebanhos? Dedicou-se à carpintaria? Voltou para casa com o ET? Deixou de tomar banho e foi para o Algarve vender melões à beira da nacional? Inspirou os Imortais?

Esta última, é a que me parece a mais forte hipótese.

There can be only one.Esta é a base da igreja católica!

E ele luta bravamente contra os Deuses das outras religiões até só haver um. O que acham que foram as cruzadas? Lutas contra os infieis. O nome diz tudo.

Perai! Alcaheda! Blasfémia?

Que seja. Agora não há fogueirinhas, por isso posso dizer o que quiser. Por via das dúvidas, nunca revelarei dados pessoais meus...

Sei lá, para variar, podiam fazer um filmezito um bocado mais longo e acabavam com essas pontas soltas de uma vez.

Eu nem cobro direitos de autor pela ideia. Pode ser? Vejam lá isso e depois digam qualquer coisa. Ora essa, de nada.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Corpos Danone

Já se deram conta que a partir de uma determinada altura do ano, as preocupações com a figura passam para a linha da frente?

Não há revista nem jornal que não traga encalacrado lá pelo meio de classificados oferecendo massagens sensuais e procurando t2 na Damaia, anúncios ao último grito de cirurgia estética, onde se consegue eliminar toda a banha animal adquirida na zona abdominal ao longo do período invernoso na pausa para o almoço.

Sem cortes, sem anestesia, enquanto se ingere um double cheeseburger com extra queijo e meio litro de coca-cola.

Milagroso.

Até já existe ginástica passiva! Tudo para não mexer o rabo.

Nada contra, cada um sabe de si e eu sei TUDO!

Nem por isso, mas tenho muitas teorias. Teorias essas que me farão dominar o mundo um dia, quando toda a minha genialidade for reconhecida em aparatosa ovação das gentes da minha terra.

Adiante, a obcessão do corpo passar-me-ia ao lado de não interferisse com a minha vidinha.

Querem comer saladinhas a todas as refeições do dia até ao tão esperado dia do reencontro com o biquini?

Na boa!

Agora, uma pessoa querer acompanhar a sua picanha com um bocadito de salada e já não haver é que não!

Querem ser esbeltos?

Não comam que nem uns porcos o ano inteiro!

Só lhes dá a crise de consciência agora?

Agora já é tarde meus senhores! Ide adejar para a praia!

Ah, e os ginásios!

Odeio chegar à sala de cardio e cheirar a cavalo. Mas a cavalo depois de ter andado a correr num picadeiro entre as coxas suadas de um toureiro vestido de licra cor de rosa com lantejoulas - carniceiros!

Ter de esperar para usar as máquinas, porque é agora que fazer sequências de 100 levantamentos vai fazer efeito.

Não ter cacifos livres nem sítio para pousar as coisas no balneário.

Ter a sauna completamente apinhada de desconhecidos.

Já me chega as filas para a costa e o pessoal que se abanca praticamente em cima de nós na praia.

Defendo que nesta altura do ano não deveria vender-se comida saudável e os ginásios deviam fechar para férias.

Assim o pessoal tinha vergonha, as filas reduziam, o espaço era maior e eu era uma pessoa feliz, com compulsões homicidas bastante mais controladas e com um tom de pele num saudável amarelo torrado.

Que dependendo da luz, quase pode ser confundido com dourado.

Quase...

terça-feira, 7 de abril de 2009

Girl next door

Mudei de poiso.

Troquei as tias da Lapa e vim para um sítio onde se trabalha tão próximo do cliente, que estou praticamente aninhada no sovaco do meu colega do lado - sou assim, afectiva.

Deixei de ter uma bela vista para um grande jardim para passar a ter uma pequena vista sobre o aqueduto.

Troquei o meu lugar de garagem por um competitivo lugar num parque de terra batida,
guardado acerrimamente por uma família de ucranianos com aspecto de terem viajado no tempo de meados da década de 80.

Disse adeus às instalações novinhas em folha de mármore reluzente e disse olá a instalações decrépitas e pouco ventiladas de um edifício antigo na fronteira de Campolide.

Despedi-me de dias curtos de intensa inactividade cerebral e abracei a carga de dias que se avizinham longos e difíceis.

Por outro lado, demoro 15 minutos a chegar ao trabalho em vez da habitual hora e pouco - não pode ser tudo mau...

É assim a vidinha de consultor. Quem sabe, um dia poderei estar sentada ao vosso lado...

Call on me


Esta manhã, assim que saí de casa apercebi-me que não tinha bateria no telemóvel.

Não sei se vos acontece o mesmo, mas fico como se tivesse perdido parte do cérebro.

Sinceramente não me consigo lembrar como conseguíamos sobreviver sem este apetrecho.

Recordo-me vagamente que sabia os números de cor e que apanhava grandes secas à espera.

Nos dias que correm não só o meu sentido de orientação, mas também a minha memória assemelham-se aos de uma traça.

Felizmente ainda tenho net e poderei tirar um tempinho para dominar a arte da mensagem de fumo.

Dá sempre jeito, embora a privacidade das mensagens não seja das melhores.