Ontem, enquanto esperava pela confecção do meu jantarito num restaurante com essa fantástica invenção - o take-away - deparei-me com uma cena que sempre me fez alguma confusão. Duas senhoras tinham acabado de jantar, num típico jantar de amigas, quando chegou a altura de pagar a conta. Neste momento estalou a seguinte discussão:
- Vá, vou la pagar.
- Ai, não sejas parva, pago eu.
- Queres ver que a gente vai ter que se chatear?
- Pago eu.
- Não, pago eu...
Após esta troca de palavras segui-se um sprint até à linha da caixa onde a discussão continuou com suaves empurrões entre ambas, até que uma deles saiu vitoriosa e lá conseguiu pagar....
Questão: Alquém quer assim tão desesperadamente pagar a despesa feita por outra pessoa? Ao ponto de haver uma chatice entre pessoas que são amigas há algum tempo? Ao ponto de haver uma discussão pública com direitos a empurrões?
Resposta: Não. Este tipo de cenas dignas de teatro aos melhores níveis não passa de representação social, ambas as pessoas insistem em pagar a totalidade da conta porque:
1º Pagar apenas a sua despesa revela mesquinhez e avareza.
2º Fazer a divisão do total e pagar apenas essa parte, embora menos grave que a primeira opção, pode ser interpretado da mesma forma.
3º Pagar a totalidade, isso sim é aceite.
Eis o processo de pensamento de ambas as pessoas dado estes pressupostos:
Quem não pagou - "Vou insistir sempre para que dê a impressão que quero realmente pagar a conta, contudo no fim, safo-me por uma nesga, simplesmente porque perdi tempo neste jogo discutindo ao pé da caixa, sem que tenha a minha carteira. Depois só me resta fazer ar de desaprovação e dizer que tem que me deixar pagar para a próxima vez"
Quem pagou - "Vou insistir sempre para que dê a impressão que quero realmente pagar a conta, mas raios.....ela foi buscar a carteira logo agora que a empregada me estende a mão para pedir o devido pagamento e já o tenho aqui na mão....vou ter que pagar desta vez.....Não faz mal, para a próxima paga ela mas num sítio mais caro...."
Passado isto, seguiram o seu caminho de braço dado, felizes na sua amizade.
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